O Doido e A Morte
Categories: Portuguese
Em 1923, a “Renascença Portuguesa” edita um volume de Teatro de Raul Brandão (1867/1930), de que constava, juntamente com “O Gebo e a Sombra” e “O Rei Imaginário”, a farsa “O Doido e a Morte”. A estreia aconteceu no Teatro Politeama, a 1 de Março de 1926, numa “Récita Única” a favor dos vendedores de jornais de Lisboa, com Alves da Cunha no papel de Senhor Milhões e Joaquim Oliveira, que também encenou, no de Governador Civil. Num contexto marcado pela degradação da vida social e política da República, “O Doido e a Morte” contrapõe à vacuidade ridícula do Governador Civil a crítica da mediocridade e da decadência, através do discurso, lúcido e pleno de consciência trágica da Vida, produzido pelo alucinado Senhor Milhões. Como refere Luís Francisco Rebello, Raul Brandão sentia-se atraído pelo Teatro e pelo “prestígio enorme” que, nas suas palavras, “quatro tábuas, dois ou três farrapos de lona a cheirarem a tinta” exercem “sobre todos os homens de imaginação”. “O Doido e a Morte”, elogiado por José Régio e Miguel Torga, é, porventura, a melhor obra de Raul Brandão e reveste-se de enorme relevo no panorama teatral português, à época dominado pela baixa comédia, pelo drama popular, a Opereta e a Revista e também pelos subprodutos do Teatro Francês. Afirma Raul Brandão que “(…) caminhamos vertiginosamente para um mundo novo que se está a gerar no tumulto e na dor da nossa época. [É necessário] Um teatro para o Povo, que ele pudesse compreender e amar, Arte (…) que aproximasse os homens dos homens e os tornasse irmãos”. (Imagem da capa: “O doido e a morte,” dc Tarot)